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História do MBPM e ABRAPP - Capítulo 3: O contexto da época e os fatores que influenciaram sua fundação

Atualizado: 9 de jun.

História do MBPM e ABRAPP - Capítulo 3: O contexto da época e os fatores que influenciaram sua fundação.


História do MBPM e ABRAPP - Capítulo 3: O contexto da época e os fatores que influenciaram sua fundação - É importante falarmos sobre o que estava acontecendo naquela época, porque, além de ter inspirado o nascimento do MBPM e da ABRAPP, ainda enfrentamos muitos dos mesmos desafios hoje, e isso continua atrapalhando o nosso crescimento. A política mostra isso. Nossas ações individuais constroem o ambiente dos pintores, da sociedade e até da política. O MBPM Movimento Brasil por um Pintor Melhor nasceu em 2016, mas suas raízes estão ligadas a um cenário muito maior do que apenas a pintura. Para entender como tudo começou, é preciso olhar com atenção para o que estava acontecendo naquela época, tanto no Brasil quanto no mundo.

História do MBPM e ABRAPP - Capítulo 3: O contexto da época e os fatores que influenciaram sua fundação

Em seu primeiro vídeo, um dos fundadores do MBPM, Juliano Alcântara, contou que teve a ideia do movimento depois de ver o povo indo às ruas, participando de protestos e manifestações. Ele diz também que se inspirou na Primavera Árabe, movimento em que jovens do Oriente Médio usaram as redes sociais para se unir e pedir mudanças. Isso o fez pensar que também poderíamos fazer algo parecido no Brasil, usando a internet como ferramenta (ciberativismo, que veremos mais à frente). Como ele mesmo disse:


"O Movimento Brasil nasceu em março de 2016, época em que o Brasil vinha passando por um momento de manifestação, onde o povo foi pra rua e aí eu associei aquilo com a Primavera Árabe também. Jovens foram pras ruas lá no Oriente Médio e eu pensei comigo: Pô, por que eu não posso fazer pelo Brasil? Usando as redes sociais? Seria uma ótima ideia. E foi aí que eu tive a ideia de, junto com alguns amigos, de lançar o Movimento Brasil por um Pintor Melhor."


História do MBPM e ABRAPP - Capítulo 3: O contexto da época e os fatores que influenciaram sua fundação

Nos próximos capítulos, contaremos mais sobre quem fundou o MBPM e como ele ganhou forma. Por enquanto, nosso foco é entender o que impulsionou todos nessa jornada da pintura no Brasil e ver como o cenário nacional e mundial moldou essa história.


O avanço das redes sociais e o início da era digital no Brasil


Até o começo dos anos 2000, a internet era um recurso para poucos. Era cara, lenta, dependia de computador e linha telefônica, e estava presente em menos de 15% das casas brasileiras. Em 2005, por exemplo, apenas 13,6% dos domicílios tinham acesso à internet, e 34,6% das pessoas com 10 anos ou mais usavam celular, que na maioria das vezes era apenas para fazer ligações e enviar mensagens de texto. Redes sociais e aplicativos ainda eram algo distante da realidade da maioria da população. A gente nem imaginava que fosse possível algo assim.

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Mas tudo começou a mudar em 2010, quando o Brasil entrou de vez na era digital. Os celulares evoluíram e começaram a virar smartphones, com acesso à internet, câmera e aplicativos. A partir daí, tudo começou a caber na palma da mão. A internet foi ficando mais acessível, os celulares começaram a ser vendidos com preços mais baixos, e até quem nunca teve computador passou a navegar pela internet direto pelo celular.


Em 2010, cerca de 40% das casas brasileiras já tinham internet, e mais da metade da população usava celular. A grande virada, no entanto, aconteceu a partir de 2016, quando 74,5% dos domicílios passaram a ter acesso à internet e os smartphones se popularizaram de verdade, principalmente entre as classes C, D e E. Isso permitiu que mais pessoas passassem a usar redes sociais como Facebook, WhatsApp, Instagram e YouTube, inclusive para trabalhar e divulgar seus serviços.

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Em 2023, 92,5% dos domicílios já tinham acesso à internet, e 87,6% das pessoas possuíam celular próprio, na maioria sendo smartphones com acesso direto às redes sociais. Para 2025, as estimativas apontam que esse número deve passar dos 95%, tanto em casas quanto entre os usuários.


Para nós, pintores, o avanço da internet foi uma mudança gigantesca. Antes, divulgar o serviço era quase impossível. Dependíamos de boca a boca, cartões, panfletos e guias como as Páginas Amarelas. Quem tinha mais recursos anunciava em outdoor, ônibus, jornal, revista, rádio ou TV local. Hoje, com um celular simples e acesso à internet, podemos tirar fotos do nosso trabalho, publicar em grupos de bairro, mostrar portfólios no Instagram, falar com clientes em tempo real, acompanhar promoções de lojas, nos especializar e até fechar serviço pelo WhatsApp sem sair de casa.


Essa transformação abriu portas para todas as profissões e nos deu mais autonomia, liberdade e oportunidades de crescimento. Agora assistimos a aulas ao vivo com fabricantes, fazemos orçamentos por videoconferência, comparamos preços de ferramentas em vários sites e recebemos pagamento por PIX em poucos segundos. Também participamos de grupos de apoio como o MBPM, trocamos dicas técnicas, discutimos normas de segurança e encontramos cursos gratuitos, alguns até com certificados, tudo online. A internet ainda facilita a compra de tintas e equipamentos, muitas vezes com frete grátis, o que antes era impensável para quem mora longe dos grandes centros.


Mas, como toda novidade, surgem desafios. Aparecem informações erradas que induzem ao erro na obra, surgem conflitos entre colegas em grupos, multiplicam-se “gurus da internet” que prometem fórmulas mágicas e simples que acabam confundindo mais do que ajudando. Também teve aumento de casos de injúria, calúnia e difamação em redes sociais, além de golpes, perfis clonados e compras online que nunca chegam. Precisamos aprender a verificar fontes, usar contratos digitais, proteger nossos dados e manter o respeito nas conversas. A internet é poderosa, mas exige responsabilidade. Quando usamos essa ferramenta com consciência, ganhamos alcance e credibilidade; quando caímos nos atalhos fáceis, podemos perder tempo, dinheiro e reputação. Por isso, precisamos vigiar cada passo.


O Ciberativismo e seus Reflexos no Mundo


O mundo também vivia uma transformação. As redes sociais passaram a ser também palco de protestos, denúncias e movimentos que, em muitos casos, ganharam força global. Elas se tornaram instrumentos poderosos para disseminar informações, conscientizar a população e organizar ações com rapidez, baixo custo e alcance que antes era impossível. Esse fenômeno recebeu o nome de ciberativismo: a organização de pessoas pela internet para expressar opiniões, defender direitos e agir de forma coordenada.


Os primeiros exemplos de ciberativismo no mundo surgiram na década de 1990, quando a internet engatinhava. Naquela época usamos listas de e-mail e fóruns para divulgar pautas sociais. Em 1994 o Exército Zapatista de Libertação Nacional, no México, espalhou seus manifestos pela rede e chamou atenção internacional para as comunidades indígenas de Chiapas. Já em 1998 e 1999, grupos contrários à globalização usaram sites e email para organizar protestos durante reuniões do FMI e da OMC. Essas experiências mostraram que a internet podia furar bloqueios de mídia tradicional e reunir gente comum em torno de causas globais.

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Foi a partir de 2010, porém, que o ciberativismo alcançou força mundial. A Primavera Árabe, iniciada na Tunísia e depois espalhada por vários países do Oriente Médio, revelou o potencial das redes sociais modernas para pressionar governos e provocar mudanças políticas. A velocidade com que mensagens, vídeos e convocações circularam demonstrou que um post podia levar milhares às ruas em poucas horas.


Alguns movimentos pelo mundo:


  • Primavera Árabe (2010-2012): Marcada por uma onda de protestos e revoltas populares. Teve origem na Tunísia em 2010 e rapidamente se espalhou pelo Oriente Médio, incluindo países como Egito, Líbia, Síria e outros países. Hoje esses países se tornaram praticamente uma ditadura.

  • Movimento 15M (2011, Espanha): Também conhecido como Movimento dos Indignados, o 15M começou em 2011 na Espanha como resposta à crise econômica e à insatisfação com o sistema político. 

  • Occupy Wall Street (2011, EUA): Iniciado em 2011 em Nova York, visava protestar contra a desigualdade econômica e a influência corporativa na política.

  • Euromaidan (2013-2014, Ucrânia): Na Ucrânia, foi um movimento de protesto em massa que eclodiu em 2013, desencadeado pela decisão do governo ucraniano de recusar um acordo de associação com a União Europeia. 

  • Teen Parties (2018-2019, América Latina): Uma série de protestos liderados por jovens ocorreram em vários países da América Latina, incluindo Brasil, México e Argentina, com demandas por ação climática, direitos estudantis e outras questões relevantes para a juventude. 

  • Manifestações populares no Chile (2019): O Chile testemunhou uma onda de protestos em 2019, com demandas por reformas sociais e econômicas. 

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Esses movimentos deram visibilidade a pautas importantes e mudaram a maneira como nos organizamos como sociedade. Levaram milhões às ruas e provaram que, com um celular na mão, qualquer pessoa pode participar da história. Mas também nos lembraram de que a falta de foco e de liderança clara pode transformar boas causas em resultados indesejados.


Em alguns países da Primavera Árabe, a ausência de metas bem definidas trouxe instabilidade, conflito armado e novos regimes autoritários. Em alguns casos, comunidades antes unidas se dividiram, grupos pegaram em armas e crimes foram cometidos em nome da causa.



Por isso, para nós pintores que já acompanhamos a geopolítica, usar a Primavera Árabe como referência pode ser complicado: é um caso amplo e genérico, com desfechos muito distintos entre os países. Cada país teve um desfecho diferente, nem sempre positivo. O que começou como luta por liberdade pacífica terminou com vários países mergulhados em ditaduras e crises prolongadas. Isso mostra que a internet, embora poderosa, não garante bons resultados sozinha. A boa intenção precisa vir acompanhada de planejamento, conhecimento, estratégia e responsabilidade.


O Brasil nas ruas: de 2013 a 2016


No Brasil não foi diferente. Entre 2013 e 2016, vivemos um ciclo de grandes protestos. Tudo começou em junho de 2013 com passeatas que levou cerca de cinco mil pessoas ao centro de São Paulo para reclamar do reajuste de vinte centavos na tarifa de ônibus, metrô e trem, que subiu de R$ 3,00 para R$ 3,20. Logo apareceu o bordão “Não é só por 20 centavos”, sinal de que o aumento era apenas o gatilho para reivindicações maiores: combate à corrupção, saúde, educação e transporte de qualidade.

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A resposta violenta da polícia em 13 de junho, com balas de borracha e bombas de gás que feriram até jornalistas, chocou o país e multiplicou o apoio popular. No dia 17 já tínhamos mais de duzentas mil pessoas nas ruas em dezenas de cidades. Quatro dias depois, em 20 de junho, mais de um milhão de brasileiros protestavam em todas as capitais e em centenas de municípios. A pressão funcionou: governos estaduais e prefeituras revogaram o aumento das tarifas, mostrando a força de uma mobilização organizada pelas redes sociais.

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O mais marcante naquele início foi que não havia bandeiras políticas envolvidas. As manifestações não pertenciam a partidos, nem a movimentos organizados. Eram pessoas comuns, de várias idades e realidades, unidas por um sentimento coletivo de que as coisas precisavam mudar. Jovens, trabalhadores, estudantes e até famílias inteiras ocupando avenidas e praças com cartazes como "Queremos saúde e educação de qualidade" e "O gigante acordou". Foi a maior mobilização popular desde o movimento pelas Diretas Já, nos anos 1980. Naquela fase inicial, a palavra de ordem era “sem partido” e qualquer político que se aproximasse era recebido com vaias e cartazes de repúdio. Essas vaias não pouparam nomes de direita nem de esquerda.


Em 2013, militantes do PT e de movimentos sociais, que apareceram na Avenida Paulista foram hostilizados e vaiados por outros manifestantes BBC. No ano seguinte, Dilma Rousseff enfrentou vaias fortes já na abertura da Copa do Mundo, no Itaquerão, em 12 de junho de 2014 Folha de S.Paulo, e voltou a ser vaiada na entrega da taça no Maracanã, em 13 de julho de 2014 El País Brasil.

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O lado da direita não ficou livre das vaias. Em 15 de março de 2015, o então deputado Jair Bolsonaro tentou discursar num protesto contra Dilma e acabou impedido pelo coro de vaias Pragmatismo Político e Estadão. Um ano depois, em 13 de março de 2016, o governador Geraldo Alckmin (que era considerado direita na época) e o senador Aécio Neves, ambos do PSDB, foram hostilizados ao chegar ao ato pró-impeachment na Avenida Paulista Agência Brasil. Em 5 de agosto de 2016, o presidente interino Michel Temer declarou abertos os Jogos Olímpicos do Rio mas mal conseguiu falar por causa das vaias no Maracanã El País Brasil. No mesmo ano, em 7 de setembro, ele recebeu nova onda de vaias durante o desfile de Independência em Brasília Agência Brasil.

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Os registros mostram que nos primeiros anos ninguém tinha “político de estimação”. Nós, cidadãos comuns, deixamos claro que queríamos mudanças reais e que todos os partidos deveriam prestar contas ao povo. Que não haveria tolerância com nenhuma figura partidária, e o recado era simples e direto, quem ocupava cargo público precisava ouvir a voz das ruas.


O Gigante Acordou?


Com o tempo a pauta das ruas passou a concentrar em críticas ao governo Dilma Rousseff e no pedido de impeachment. Movimentos de direita cresceram rápido e aprenderam a usar as redes sociais para convocar grandes atos. Foi aí que muitos políticos perceberam que aquelas multidões poderiam servir de trampolim eleitoral.

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Aos poucos, símbolos e palavras de ordem ganharam cor partidária. As camisetas verde-amarelas viraram uniforme; a bandeira nacional passou a servir de pedestal para causas específicas. Em vários protestos surgiram discursos sobre “fraude nas urnas” e faixas pedindo “intervenção militar já” ou aplicação do “artigo 142”. Alguns manifestantes defendiam a volta do regime militar como “solução rápida” para a corrupção e as supostas fraudes na urnas.


Nesse mesmo período, a mistura de política, com religiosidade e culto a personalidade se intensificou. Em muitos atos, momentos religiosos aconteciam lado a lado com discursos políticos. Pessoas que discordavam eram taxadas de traidoras ou de “não tementes a Deus”, como se fossem erradas, e passavam a ser vistas como inferiores.

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A mistura de política, religião e culto à personalidade voltou como era antes e mudou de vez o tom dos protestos no Brasil, decretando o fim das manifestações apartidárias. A pauta ampla de 2013, que pedia melhores serviços públicos e mais transparência de todos os partidos, foi engolida por gritos em defesa incondicional de um único líder e de toda a sua família. Isso aconteceu tanto com líderes da esquerda, da direita, quanto do centrão, que, além de Brasília, também dominam as cidades do interior Brasil afora. A idolatria acontece até hoje, infelizmente. Não é exclusividade de Brasília, isso também acontece nos estados e municípios. Sempre existe alguém disposto a levantar a bandeira para defender um político específico, mesmo quando ele erra.


Esse ambiente de idolatria voltou a dar aos líderes uma sensação de impunidade. Eles não temem mais errar, porque sabem que sempre haverá um grupo pronto para defendê-los, mesmo quando tomam decisões absurdas. Governam através de decreto, o caminho mais fácil, em vez de enfrentar o processo de um projeto de lei. Decretos são frágeis. Basta mudar o governo e vem outro presidente que assina um novo papel e derruba tudo, mas usam mesmo assim. Sabe por quê?

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Decreto é o caminho mais rápido e fácil para o governante mostrar serviço à própria base. Com uma simples canetada, o texto sai no Diário Oficial no dia seguinte, vira manchete e serve de prova de que ele “está trabalhando”. Já aprovar um projeto de lei exige articulação política, negociação, inteligência e, o principal, boa vontade, qualidades que eles não demonstram ter.


A partir daí o roteiro se repete. Primeiro espalham o pavor: “Se outro entrar, acaba tudo que eu fiz.” A tática é velha, mas continua funcionando. Os líderes menos preparados governam por decretos, ferramentas frágeis que qualquer sucessor derruba, e depois culpam os outros pela insegurança criada pelas próprias limitações. Em vez de construir políticas sólidas, aprovadas como lei, preferem a canetada rápida para alimentar a narrativa e manter sua base mobilizada.

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24 de maio de 2017 — confrontos em Brasília, prédios públicos queimados e depredados por uma multidão de esquerda.

O caso das armas mostra bem como um decreto pode mudar tudo de um dia para o outro. Em 2019 nós vimos o presidente Jair Bolsonaro revogar o Decreto 5.123/2004, editado no primeiro governo Lula, que regulamentava o Estatuto do Desarmamento e dificultava o registro, a posse e o comércio de armas no país. No lugar dele entrou o Decreto 9.785/2019, tornando o acesso às armas muito mais fácil.


Quatro anos depois, em 2023, já no primeiro dia do novo mandato, o presidente Lula anulou esse decreto e, alguns meses depois, com mais calma, tornou as regras ainda mais rígidas por meio do Decreto nº 11.615/2023. Em poucos cliques de caneta, a política nacional de armamento virou de ponta-cabeça duas vezes.


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8 de janeiro de 2023 — vandalismos, invasões e depredações do patrimônio público em Brasília, cometidos por uma multidão de direita.

O caminho prudente seria trabalhar por meio de projetos de lei, porque somente o Congresso pode alterar ou revogar uma lei. Para isso, o político precisa ouvir a sociedade, negociar com partidos, explicar cada ponto nas comissões, conseguir maioria em duas votações e ainda enfrentar o risco de veto ou ação no Supremo. Não é simples, mas é duradouro. Uma lei bem feita passa por tantos filtros e exigências que dificilmente pode ser derrubada de um dia para o outro. Reverter ou mudar uma lei exige praticamente o mesmo esforço de quando ela foi criada.


Narrativas da politicas, fique atento

É comum ouvirmos o político dizer que “representa o povo”, mas, na prática, a maioria nem votou nele. Em 2018, Bolsonaro teve 57,8 milhões de votos, apenas 27 % dos brasileiros. Em 2022, Lula recebeu 60,3 milhões, cerca de 28 % da população. Menos de um terço do país escolheu cada um, ainda assim eles precisam governar para 100 % de nós.

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Índice de Percepção da Corrupção no Brasil e no Mundo

Outro discurso clássico é o do “imposto do bem”. Criam uma nova taxa “para a saúde” ou “para a educação” e, se questionamos, dizem que não queremos ajudar os pobres. Por que não começam cortando as regalias do alto funcionalismo, que ganha bem acima da média? É legal, mas é imoral com quem paga a conta: todos nós.


Quando o mandato está acabando, anunciam obras grandiosas e deixam a conta para o próximo governo. É fácil parecer generoso quando não se paga a fatura. Depois, quando as dívidas estouram, o sucessor vira vilão por “cortar” ou “paralisar” projetos.


Agora surgiu a ideia de que o político A seria “amor” e o político B, “ódio”. É um discurso raso que infantiliza o debate e nos divide ainda mais. Funciona porque mexe com emoções: a direita usa Deus, pátria e família, a esquerda usa fascismo e nazismo. Tudo para marcar o outro como inimigo. O problema é sempre o outro.


Outra desculpa frequente é: “a culpa é da herança maldita.” Assim que assumem, muitos passam anos culpando o governo anterior por todos os problemas. Claro que gestões anteriores deixam desafios, mas o eleitor quer soluções, não desculpas.


Tem também a frase bonita e vazia: “estamos do lado certo da história.” Quem usa isso quer se colocar como moralmente superior, como se só ele tivesse boas intenções. Na prática, é um discurso usado para esconder acordos e contradições.


Outro truque comum é: “se você critica, está ajudando o inimigo.” Quando alguém questiona uma decisão, logo é rotulado como “traidor” ou “a favor do outro lado”. É uma forma de tentar calar o debate e proteger os erros do próprio grupo.

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Índice de Homicídios no Brasil e no Mundo

E um dos mais perigosos: “é pela democracia.” Essa frase serve para justificar qualquer medida, até mesmo abusos de poder. Quem se opõe é logo acusado de ser “contra a democracia”, quando, na verdade, está defendendo equilíbrio e respeito às regras.


Sobre corrupção, evitam investigações profundas. Se nada é apurado, anunciam que “a corrupção acabou no Brasil”. Na verdade, apenas colocam aliados em postos-chave como na PGR e reduzem a fiscalização.


Outro exemplo clássico é quando o político diz: “não consigo governar porque o sistema não deixa.” Quando percebem que não conseguem entregar o que prometeram, jogam a culpa no sistema, no Congresso ou no Supremo. Mas, antes da eleição, diziam que eram os únicos preparados para enfrentar tudo isso.

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Índice de Crimes Cibernéticos no Brasil e no Mundo

Existe um padrão nos políticos sem preparo. Eles chegam prometendo resolver tudo, entram como heróis e saem como vítimas. Hoje, curiosamente, a direita repete discursos que antes eram mais comuns na esquerda, falando em golpe, fraude nas urnas e abusos do Supremo.


Mas quando o assunto é resolver de verdade, a conversa muda. Em 2019, o governo Bolsonaro vetou integralmente o PL 10.042/2018, Lei que foi aprovada que estabelecia um prazo máximo de 180 dias para que decisões monocráticas do STF (liminares concedidas por um único ministro) fossem obrigatoriamente avaliadas e julgadas pelo plenário da Corte, composto pelos 11 ministros que formam o Supremo Tribunal Federal.


O veto foi visto como contraditório, pois, embora o presidente e sua base criticassem publicamente o chamado “ativismo judicial” e o excesso de decisões monocráticas no STF, o governo acabou impedindo na prática uma proposta que ajudaria a limitar justamente esse tipo de situação. A justificativa oficial para o veto foi que a proposta feria o princípio da separação dos poderes, argumentando que caberia ao próprio Supremo definir suas regras internas.

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Manifestações Contra o STF de 2019 no Rio Grande do Sul, não menciona o Alexandre de Moraes

Em novembro de 2023, o Senado aprovou a PEC 8/2021, que tem o objetivo de limitar o uso de decisões monocráticas no STF. Embora esse tema á vem sendo debatido no Congresso há mais de uma década, por meio de diferentes projetos de lei e propostas. No entanto, até agora, em junho de 2025, a PEC ainda permanece parada na Câmara dos Deputados. E um detalhe importante: caso venha a ser aprovada pelo Congresso, o presidente Lula não poderia vetar, pois uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC), diferente de um projeto de lei, não passa pela sanção presidencial. Uma vez aprovada nas duas Casas, ela é promulgada diretamente pelo Congresso.


Na mesma linha, a abertura da CPI do Abuso de Autoridade no STF, proposta em 2023, acabou barrada por acordos políticos. Embora o deputado Marcel van Hattem (Novo-RS) tenha protocolado o pedido com as 171 assinaturas necessárias na Câmara dos Deputados, parlamentares, inclusive o senador de direita Flávio Bolsonaro, argumentaram que investigar ministros do Supremo poderia gerar instabilidade institucional. Com isso, o pedido não avançou, e a CPI sequer chegou a ser instalada. Resultado: nada aconteceu.

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Pare de ser enganado. Todo político acerta, todo político erra. Cobre sempre, nunca defenda cegamente. Uma democracia forte precisa de cidadãos atentos, não de torcedores. A verdade é que a maioria dos políticos não tem ideologia firme. Quando convém, direita e esquerda se juntam no centrão para proteger privilégios. Falam como se fossem ideológicos, mas agem em causa própria. Não estão dispostos a abrir mão, não estão preparados para servir. Acham que o povo é que deve servi-los.


Esse foi o cuidado que tivemos no MBPM em 2016: evitar os erros que destroem tantas lideranças, movimentos e administrações. Não permitir que a causa se perdesse por falta de definição ou de foco, nem cair na armadilha de idolatrar ou odiar pessoas. O compromisso sempre foi com a causa, não com pessoas ou grupos. É essa consciência que sustenta um movimento de verdade.


A importância de refletir antes de tomar decisões


Refletir com calma antes de agir dentro do MBPM sempre foi essencial, porque lidamos com a imagem de toda uma profissão. Uma ideia pode parecer moderna ou bem-intencionada, mas, se for aplicada sem entender o cenário completo, pode trazer mais prejuízo do que benefício. Boa vontade não basta. É preciso responsabilidade, visão de futuro e diálogo. Cada escolha, por menor que pareça, impacta o dia a dia de milhares de pintores.


Nós, pintores que já acompanhávamos o cenário político no início do MBPM, prestávamos atenção a cada mensagem dos fundadores. Mas a cada frase, novas perguntas surgiam. No começo, percebemos que aquela era nossa chance de fazer história e que não podíamos repetir os mesmos erros que tantas lideranças haviam cometido. Definimos que, no MBPM, o foco seria diferente e muito claro. Não haveria salvadores, nem heróis ou vilão de ocasião. Como voluntários do MBPM, líderes, fundadores, diretores e coordenadores estariam ali para servir ao pintor, não o contrário. Nós, enquanto pintores, definimos que cada um de nós deveria ser o agente da mudança na pintura, buscando valorização e profissionalização a partir do próprio comportamento. e claro, não foi unânime.

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No Brasil, as nuances quase sempre são ignoradas. Impera a simplificação rasa, o pensamento de oito ou oitenta, aquela velha dicotomia do super-herói e do supervilão. Mas a realidade não é assim. Precisamos de mais responsabilidade, mais maturidade no debate. Foi com esse cuidado que construímos o MBPM.


O movimento nasceu da observação atenta do que acontecia no mundo, no Brasil, nas obras, nas lojas de tinta, nas redes sociais e nas conversas entre colegas. Houve muito estudo, muita escuta, especialmente dos voluntários e parceiros que enfrentavam, junto conosco, as dificuldades do dia a dia. E isso gerou resultados concretos.


Mas nada disso teria dado certo sem decisões difíceis tomadas com seriedade. Muitas vezes foi necessário apontar problemas dentro da própria classe e até entre parceiros. Desagradar pintores e parceiros e abrir mão de caminhos fáceis foi necessário em nome de um futuro mais responsável para todos.

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Muitos acham que o MBPM foi apenas uma boa ideia que deu certo. Mas não foi tão simples assim. O movimento nasceu da iniciativa de muitos pintores que buscavam soluções para problemas que se acumulavam há anos no setor da pintura e que ninguém estava resolvendo de forma organizada. Era preciso conectar o pintor, valorizar a profissão e transformar todo o setor, fazer algo juntos, mesmo com todas as nossas diferenças. E essa mudança vem sendo construída aos poucos, com dificuldades, por profissionais à frente de seu tempo. Não basta apenas enxergar a necessidade de evolução, é preciso colocar a ideia em prática e fazê-la funcionar.


Nos próximos capítulos, vamos contar em detalhes o início do MBPM, as ideias que deram forma ao movimento e algumas sugestões e caminhos que surgiram ao longo do tempo, e por que decidimos não seguir por alguns deles. Como você verá, desde o começo o nosso compromisso sempre foi claro. Não perder o foco, não cair em armadilhas e construir um movimento de verdade.


Até o próximo capítulo!

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Estou amando escrever nossa história, o próximo capítulo será muito bacana

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Que matéria espetacular

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