Capítulo 4 – Início do MBPM (Março de 2016): História dos Pintores Profissionais, do MBPM e da ABRAPP no Brasil

Capítulo 4 – Início do MBPM (Março de 2016): História dos Pintores Profissionais, do MBPM e da ABRAPP no Brasil

História dos Pintores MBPM ABRAPP no Brasil - Com o objetivo de contar a história do pintor por completo, convidamos todos os fundadores e pintores que participaram dessa jornada a compartilharem suas versões dos fatos aqui narrados. Caso alguma informação esteja imprecisa ou se você quiser contar a sua própria história, envie um e-mail para: douglaso@pintorabrapp.com.br. Enquanto isso, usamos como base trechos dos primeiros vídeos do MBPM, disponíveis no canal oficial do movimento no Link do primeiro vídeo: Vídeo Institucional - MBPM.

Em março de 2016 a nossa realidade era bem diferente. Mesmo com muitos pintores talentosos espalhados pelo país, a informação não circulava como hoje. Quase não havia grupos de pintores com movimentação de curtidas e comentários. A internet móvel era cara e instável, muitos de nós só ligávamos os dados em casos de necessidade. Nos celulares, os pacotes eram limitados, assistir vídeo era luxo e usar YouTube para aprender era raro.

Nas obras quase não havia Wi-Fi. As lives praticamente não existiam — o Facebook Live começou em janeiro de 2016 — e também não havia Reels nem Shorts (vídeos curtos). Poucos faziam aulas online e quase não havia curso EaD específico de pintura; hoje existe o do SITIVESP/SENAI com apoio da ABRAPP. Para piorar, muita dica boa ficava guardada pelos profissionais mais experientes, com receio de gerar concorrência. Nós sabíamos fazer, mas ainda não sabíamos compartilhar.

Apesar do talento de muitos, faltava ao mercado a vontade de unir e somar forças. A nossa categoria sofria com falta de reconhecimento, de referências e de padrão. Havia pouca troca de conhecimento, autoestima baixa, baixa produtividade e pouca organização. Sem representação, sem boas práticas e sem referências claras, a profissão era muitas vezes desvalorizada e desestimulada a crescer.

Naquela época, quase não tínhamos contato direto com a indústria. As parcerias eram raras e o relacionamento com as marcas acontecia quase sempre por meio dos lojistas. Não havia plano, nem união, nem voz organizada. Muitas vezes nós mesmos desvalorizávamos a profissão, e por isso era difícil crescer. Era uma panela de pressão, com tudo acumulado. Precisávamos agir. Faltava só um empurrão para sairmos da zona de conforto e começarmos a construir, juntos, um novo caminho.

O Grupo P I N T O R no Facebook

Juliano Alcântara, pintor que morava e trabalhava em Praia Grande, no litoral de São Paulo, já tinha experiência com grupos no Facebook. Anos antes, ele criou um grupo sobre samba que fez sucesso. Depois que saiu desse projeto, outros administradores continuaram com o grupo. Então ele decidiu começar outro, agora voltado à pintura. E foi desse grupo que nasceu um movimento. E desse movimento nasceu uma associação de pintores. Já pensou? De um grupo virar associação? Incrível, né? Hoje, Juliano é um dos principais influenciadores da Sherwin-Williams e uma referência nas redes sociais.

Na época, não existiam grupos de pintores no WhatsApp. Na internet, quase não havia espaço para trocar ideias com outros profissionais — com uma exceção: o blog do Leandro Piovesan. No Facebook, os grupos de pintores estavam parados, sem postagens, sem curtidas, sem comentários, sem conversa, sem vida. A exceção era o grupo do Juliano.

Esse grupo criado por ele existe até hoje e se chama PINTOR. Mas, naquela época, o nome era escrito com espaços: P I N T O R. Não aparecia nas buscas do Facebook ou de navegadores de busca na internet, porque os espaços atrapalhavam o resultado no Facebook e no Google. Isso acabou deixando o grupo mais seletivo. Para entrar, na maioria das vezes, só sendo convidado.

Juliano fazia isso manualmente. Ele ia caçando pintores nas redes sociais. Achava pelos comentários, pelas publicações ou até pelas fotos de perfil. Era um verdadeiro trabalho de formiguinha que fez toda a diferença. Quando percebia que a pessoa era pintor, mandava uma mensagem e convidava pro grupo.

Juliano sempre foi muito ativo nas redes sociais: postava o tempo todo, respondia comentários e puxava conversa. Conforme o grupo cresceu, ele passou a chamar e aceitar pintores voluntários para ajudar na moderação. Isso ajudou muito, porque foi reunindo os melhores e os mais ativos. Como acontece em todo grupo, os mais participativos foram convidados para moderar.

Assim nasceu a primeira moderação do grupo, com os pintores, Juliano Alcântara (Praia Grande, SP), Leandro Piovesan (Ferraz de Vasconcelos, SP), Rafael Martins (Monte Mor, SP), Thompson Almeida (Pincéis Exin Royal, Londres, Inglaterra), Desirée Bandeira (Curitiba, Paraná), Pedro Cunha (João Pessoa, Paraíba) e Fernando Freitas (Minas Gerais, Universidade da Pintura). Eles ficaram responsáveis por cuidar do grupo e mantê-lo vivo.

O Início do MBPM

Foi nesse cenário que o pintor Juliano Alcântara sofreu um acidente em obra. Ele caiu de uma escada, machucou a coluna, precisou ficar de repouso e acabou perdendo vários serviços que já estavam agendados. Sem salário fixo, sem plano médico particular e sem poder dar entrada no auxílio que o MEI oferece, logo percebeu que, se ficasse algumas semanas afastado, não teria como pagar as próprias contas.

Durante a recuperação, com o celular na mão, ele acompanhava as notícias. Viu as manifestações citadas no capítulo anterior, que pediam mudanças no Brasil e no mundo, e também os grupos que se formavam nas redes sociais.

Juliano resolveu fazer uma publicação para chamar a atenção dos pintores. Queria dividir sua reflexão e falar sobre a importância de se cuidar da saúde, da imagem profissional com uniforme e também da necessidade de ferramentas de qualidade e tecnologia profissional.

Rafael Martins, um dos três fundadores, comentou para nossa reportagem que Juliano falou no grupo de WhatsApp MODERAÇÃO GRUPO PINTOR sobre a necessidade de fazer algo, mas o pessoal da moderação não deu muita atenção. Mesmo assim, ele insistiu e correu atrás para fazer uma logomarca. Segue a transcrição do primeiro vídeo com os fundadores explicando o que é o MBPM.

Juliano Alcântara: A logo do Movimento, pra mim, é o seguinte. O braço e o rolo! O braço, pra mim, é sinonimo de luta e resistência. E o rolo é uma ferramenta que o pintor muito utiliza, né? E como eu tive a ideia, mais ou menos assim. Eu peguei algumas partes que tinha e levei pra um amigo chamado Guto, que cuida de criação de sites e desenvolve a arte. Ele começou a criar, passou pra mim e eu falei: ‘Peraí, peraí. Não, não finaliza não’. Ele queria finalizar. Eu falei: ‘Não, não, não vai finalizar’.”

A imagem ainda faltava algo. Faltava o toque do pintor. Antes de divulgar, Juliano enviou o rascunho para Leandro Piovesan, pintor da cidade de Ferraz de Vasconcelos, que na época já era moderador do grupo e muito conhecido entre os profissionais pela sua atuação com artes digitais, marketing, criatividade e comunicação visual.

Leandro já mantinha um blog, uma página no Facebook e um canal no YouTube chamados EU SOU PINTOR, que eram referência para quem queria estudar pintura pela internet. Ele também é formado em marketing e, desde o início, se destacou por conseguir unir o lado técnico da pintura com estratégias de comunicação profissional.

Mesmo naquela época, Leandro já era um dos nomes mais respeitados da internet quando o assunto era conteúdo para pintores. Hoje, influenciador da gigante Coral (multinacional AkzoNobel), podemos afirmar sem medo: Leandro é um dos principais influenciadores da pintura no Brasil.

Juliano Alcântara: “Peguei essa arte. Eu tenho um amigo chamado Leandro Piovesan, que é pintor. O que é que eu fiz? Apresentei pro Leandro. Falei: ‘Leandro, tá aqui pra você, finaliza. Coloca um pouco de sentimento de pintor nessa arte. Porque isso aí é pra nossa classe, mermão.”

Leandro ajustou a imagem, escolheu uma tipografia mais amigável e deu o toque final. O logo mostrava um braço forte, na cor verde, segurando um rolo azul e amarelo, remetendo às cores do Brasil e à ideia de luta e resistência. No centro da imagem, em vermelho, estava a palavra MOVIMENTO, em destaque. Essa escolha não foi à toa. A palavra “movimento” carrega um significado importante, que até hoje muitos pintores ainda não compreendem por completo. Mais à frente, vamos falar mais sobre isso.

Leandro Piovesan: “Bom, o Juliano mandou pra mim um rascunho de uma logomarca e falou pra eu fazer, do jeitão dele, né? ‘Piovesan, monte isso aí pra mim, finaliza isso aí’. Um amigo dele montou uma arte, mas ele queria que eu finalizasse. E aí eu desenvolvi esse logo que tem hoje do Movimento Brasil por Um Pintor Melhor.”

Rafael Martins comentou que, depois de pronta, antes de publicar no Facebook, Juliano colocou a imagem no grupo de WhatsApp dos moderadores. Todos viram, elogiaram e ficou a dúvida: o que fazer de fato? Enquanto isso, Juliano resolveu publicar no Facebook e ver no que ia dar.

Juliano Alcântara: “E aí o Leandro me devolveu essa arte. Eu peguei ela e falei: ‘Vou postar isso numa rede social, vou mandar lá no grupo pros pintores verem. O que nós estamos criando? O que nós estamos pretendendo aí?’ Foi quando eu joguei ela na rede social. Eu lembro como se fosse hoje.”

A publicação bombou.

A Repercussão no Grupo P I N T O R

Com a criação da logomarca do movimento, a imagem foi publicada nas redes sociais pelo Juliano Alcântara em março de 2016 e gerou uma ótima receptividade entre os pintores do grupo P I N T O R, que se interessaram em saber mais sobre o MBPM.

Naquela época, o grupo já reunia quase mil pintores. Em poucas horas, o post acumulou centenas de reações.

Pintores elogiaram a arte e perguntaram o significado. Um colega pediu autorização para imprimir a logo em um boné. Outro sugeriu fazer adesivos para a caixa de ferramentas. A postagem se encheu de perguntas e ideias.

Rafael Martins: E lá os pintores já começaram a ter uma boa aceitação, a perguntar o que era aquilo e a gente explicando, Juliano falando.

Leandro Piovesan: Já de cara todos eles gostaram muito dessa arte.

Juliano Alcântara: Aí começaram a curtir, comentar. E os pintores: Juliano, o que é isso? Perguntando para mim inbox: O que é isso? Que significa isso aí? Esse braço achei legal. Vou mandar fazer uma camiseta pra mim.

Com o acúmulo de comentários, a moderação do grupo no Facebook entrou em ação para ajudar. Era trabalho voluntário, então cada um contribuía no tempo livre. Com a repercussão da postagem, Leandro Piovesan e Rafael Martins assumiram a linha de frente junto com Juliano para transformar a ideia em ação. Pela atuação direta nesse início, ao lado de Juliano Alcântara, passaram a ser reconhecidos como fundadores oficiais.

Rafael Martins, pintor de Monte Mor, SP, já se destacava por falar bem em público e gravar vídeos sobre pintura. Com facilidade para texto, leitura e escrita, passou a ajudar a escrever e explicar como seria o formato do MBPM. Hoje Rafael tem uma empresa de sucesso de papel de parede ecológico e pedras naturais chamada Eben Decor.

O primeiro vídeo conta esses detalhes:

Rafael Martins: “Aí, depois dessa repercussão, a gente foi sentar e começar a planejar como ia ser essa campanha, como é que nós iríamos mobilizar a classe nas redes sociais em prol de uma categoria mais valorizada.”

Leandro Piovesan: “Foi uma repercussão muito grande. Muitas pessoas vieram procurar a gente: o que é o movimento. Dias depois, a gente já estava fazendo visitas para fabricantes de tintas. Algo que para nós, de cara, foi uma grande surpresa. Não imaginávamos o tamanho que isso poderia causar e trazer para a vida das pessoas, principalmente os pintores que estão lá no nosso grupo.”

Juliano Alcântara: “O Movimento Brasil por um Pintor Melhor. O braço é luta e resistência. O rolo é a nossa ferramenta. É o rolo que representa toda a nossa classe.”

Leandro Piovesan: “Depois dessa enorme repercussão que houve após a publicação do logo do movimento, a gente parou e falou: vamos criar uma campanha que envolva realmente os fabricantes interessados em conhecer um pouco mais do que é o movimento, unir mais a classe, unir os pintores.”

Rafael Martins: “E, graças a Deus, hoje nós podemos dizer que temos um certo respeito por parte de toda a cadeia. Fabricantes de ferramentas, fabricantes de tintas, órgãos setoriais como a ABRAFATI, por exemplo, têm abraçado, acreditado e comprado a ideia, os valores que esse movimento defende: a valorização e a profissionalização da categoria.”

Leandro Piovesan: “A gente pode fazer uma campanha em nível nacional e distribuir uns kits para os pintores. Isso vai ser muito bom para criar uma conscientização para o pintor. E essa foi a ideia. Nós sentamos e colocamos no papel exatamente o passo a passo de como seria essa campanha. Os pintores fazendo uma campanha publicitária. Foi assim que começou.”

Rafael Martins: “O que nos motiva hoje a prosseguir, o que nos dá forças para prosseguir, é ver o engajamento dos pintores, a maneira como foi abraçada a causa, como verdadeiramente entenderam o propósito. A grande maioria já entendeu que é preciso profissionalizar e se valorizar. E, para se valorizar, é necessário ter uma autocrítica. O pintor precisa olhar para dentro de si e falar: eu preciso mudar, eu preciso me adequar. O mercado tem mudado. Eu preciso ter uma boa imagem perante o cliente, eu preciso me apresentar de forma melhor, preciso usar uniforme, preciso usar equipamentos de segurança e eu preciso entender as necessidades do cliente. Eu preciso ser um bom profissional. Mais do que saber técnicas, é entender a necessidade do cliente. E sermos unidos, unir a categoria, plantar a formalização e a valorização. E foi para isso que nasceu o Movimento Brasil por um Pintor Melhor.”

Como vimos no primeiro vídeo dos fundadores, as palavras são claras: mudança de comportamento, autocrítica, imagem do pintor, ferramentas e formalização. Para seguir esse caminho: “criar uma campanha que envolva os fabricantes interessados em conhecer melhor o movimento, unir a classe, mobilizar os pintores nas redes sociais e fortalecer a conscientização por uma categoria mais valorizada.”

Tudo começou com a vontade de mudar. A partir de uma postagem, o MBPM se espalhou, atraindo pintores e voluntários com o mesmo objetivo de melhorar a profissão e elevar o padrão da pintura no Brasil.

No próximo capítulo, vamos contar por que comemoramos o aniversário do MBPM em 21 de setembro de 2016 e o que mudou a partir dessa data.

Até o próximo capítulo!